segunda-feira, 31 de março de 2008

Sobre as segundas-feiras

O sábado e o domingo sempre passam mais depressa que o esperado, e lá, no fim do domingo, é que a gente dá de cara com a malvada segunda-feira. Pra mim, ela já começa quando eu vou dormir, no domingo de noite, sem o menor sono por ter passado metade do final de semana na inatividade. Rolar na cama é rotina nessa noite, acordar desorientada na segunda, idem.

Pois não é que essa segunda-feira ainda acordou cinza? E um pouquinho chuvosa... Sorte minha, que não agüento mais o calor desse verão prolongado. Azar da minha vontade de continuar na cama bem quentinha e gostosinha.

Parei no posto pra comprar uma bolachinha pra comer. As pessoas cobertas com casaquinhos finos, que não saíam do armário desde o ano passado, me atenderam sonolentas. Do mesmo modo, me remeti a elas. Uma música de fundo ininteligível, mas (sono)lenta me lembrou, novamente, que estava passando por uma manhã de segunda-feira.

Porque todas as manhãs de segunda-feira são pacatas e demoram a passar. Todas são chuvosas e cinza e melancólicas, mesmo se tiver fazendo um sol desgraçado. A rotina ainda não nos tomou conta, o organismo está desacelerado, como esteve no fim-de-semana. As pessoas trabalham pensando na noitada do sábado, no churrasco do domingo ou no filme da sexta de noite.

Os “bons dias” são raros e sempre em câmera lenta, o ambiente é sempre silencioso e as pessoas, quando conversam, o fazem em pelo menos dois tons abaixo do normal. Tudo é calmo, tranqüilo, sem stress... Porque você tem toda a semana pela frente pra que a ansiedade te invada, o trabalho comece a acumular e a sua voz não mais murmure um bom-dia, mas grite em alto e bom tom: “Graças a Deus que hoje é sexta-feira!”

sexta-feira, 28 de março de 2008

Vontade passageira

De vez em quando dá uma tristezinha súbita e passageira. Assim, como um ventinho gelado que nos estremece. Uma chateação... Saudades de gente que está longe, de gente que já foi, de gente que está perto. E assim como veio a tristeza ela vai. Quem está longe manda um e-mail, quem já foi deixa uma boa lembrança e quem está perto nos visita. Daí a gente vive mais pra conhecer mais gente que vai deixar saudades um dia e assim ciclicamente até que a gente se vá.

De vez em quando dá também um mau humor e um enjôo de tudo e de todos. Vontade de se esconder num buraco com “algum remédio que te dê alegria”. Vontade de ir morar longe, de conhecer outra coisa, de expandir o quadrado e de deixar tudo que está para trás.

Mas também de vez em quando dá vontade de deixar tudo como está, de ficar em casa, de assistir novela das oito, de tomar café-da-manhã, almoçar, jantar, dormir e acordar. De brincar com o cachorro, de reclamar da vizinha, de falar mal da vida alheia. Assim como vem, também essa vontade se vai, com a mesma inconstância de todas as nossas outras vontades.

E de vez em quando, ainda, dá uma vontade de escrever. Que, da mesma forma, vai embora.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Amoras na pele

Estava dormindo, quando senti uma agonia no meu braço. Sentei-me na cama e percebi uma crosta quebradiça no meu braço esquerdo, bem no pulso. Acendi a luz e apalpei o braço um pouco mais acima. Senti umas bolinhas e vi que eram amoras. Olhando ainda mais de perto notei que elas saíam de dentro daquela crosta. Deslizei a mão mais acima do braço e senti que na parte posterior eles estavam cobertos de amoras. E que elas iam surgindo mais além e cobriam parte das minhas costas. Não pensei em chamar ninguém, fiquei atônita, o que haveria de ser aquela mutação maluca? Não doía, só incomodava um pouco. Será que se eu tentasse arrancá-las eu sentiria alguma dor? Não, não senti nada, elas caíam na cama ao menor esforço, era só passar as mãos nelas. E assim elas foram caindo todas e só sobrava um líquido cor de ameixa sobre a crosta quebradiça. E a crosta também se desmanchava facilmente. Eu tinha de volta a minha pele, mas sobrava uma inquietação, um arrepio, um estranhamento horrível. Várias vezes durante o dia tive essa sensação, que não era boa nem ruim, apenas uma sensação (indescritível) de amoras nascendo no seu corpo. E o arrepio, que durava o tempo do meu pensamento naquilo.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Fresquinhas

Bom, vamos às novidades dessa minha vida tão interessante: Estou trabalhando “fixa” novamente. E isso quer dizer das 8 às 18 horas. E isso também quer dizer acordar cedo, o que quer dizer, ainda: putaqueopariu, que diacho!

É, eu realmente não gosto de acordar cedo, tenho problemas sérios com isso. A questão nem é acordar cedo, mas acordar com o despertador ecoando nos ouvidos. Eu preciso dormir até a hora que meu corpo mandar. Nada mais natural.

Outra conseqüência do fato de eu estar com um emprego mais estável é a morte súbita de minhas bebedeiras semanais. Ou a minha morte, caso elas continuem acontecendo com a periodicidade desses últimos tempos.

Mas, claro, tem o tal do lado bom: ambiente delicioso de trabalho, um pouco mais de estabilidade financeira, pessoas novas, clientes novos, mesa nova, gavetas novas, caderno novo, caneta nova. Tudo se renova. E isso é muito, muito legal!

O lado ruim é que pesa um pouco: horários. Desregrada que só eu, vou ter que me readaptar à vida operária. Mas vale a pena. Assim espero.

quarta-feira, 12 de março de 2008

A história do Irã em quadrinhos

Eu acabei de ler Persépolis, e fiquei muito feliz. Não sou muito fã de quadrinhos, mas li Maus e agora Persépolis e são dois livrassos. Aprendi a gostar das bandas desenhadas com o meu amorzinho, o Gabri, que resenhou Persépolis pro blog do Andrey. E eu, ladina que sou, copiei e colei.

Irã autobiográfico (por Gabriel Rocha)

Com um histórico de milênios de invasões, conflitos religiosos e políticos, o Irã ainda é uma incógnita para o Ocidente. Marjane Satrapi ajuda a elucidar um pouco do passado recente do país com Persépolis (Cia das Letras), obra autobiográfica em quadrinhos que havia sido publicada em quatro partes no Brasil e que agora é relançada em volume único.

Satrapi, cujo bisavô foi imperador do país, cresceu no meio da revolução de inspiração comunista que derrubou o Xá Rezah Pahlavi em 1979. Aos olhos da esquerda e dos líderes religiosos do país, Pahlavi era visto como uma marionete dos americanos e ingleses. Nos anos em que esteve no poder, o Xá promoveu a ocidentalização do país e a aproximação com Israel. Ao mesmo tempo, seu regime se tornou cada dia mais despótico e intolerante com a oposição. Estima-se que no final do seu reinado havia 2200 presos políticos no Irã.

Educada em uma escola francesa laica de Teerã, Satrapi tinha 10 anos na época da revolução. Filha de intelectuais comunistas, ela cresceu em meio ao marxismo e à religião. Favoráveis à deposição do Xá, os pais da menina logo se deram conta de que a revolta popular que derrubou Pahlavi havia sido rapidamente apropriada por líderes religiosos, que transformaram o Irã em uma república islâmica. Os opositores de esquerda que derrubaram o Xá, pularam do fogo para a frigideira, já que continuaram a ser perseguidos pelo novo regime.

Cedo, Satrapi teve que conviver com as mudanças impostas pelos líderes religiosos. Na escola ela era obrigada a usar véu e meninos e meninas agora tinham que estudar em salas de aula separadas. O regime ia se tornando cada dia mais duro, forçando a jovem Marjane a se acostumar com a perseguição a parentes e amigos da família.

Em meio à confusão interna do país, o Iraque de Saddam Hussein invadiu o Irã e começou uma guerra que se arrastou de 1980 até 1988. Marjane e sua família viram de perto a escassez de alimentos, os bombardeios, a hostilidade a refugiados de outra partes do país que vinham para Teerã, a proliferação de mártires e a convocação de amigos de infância para a guerra. Tudo isso ao mesmo tempo em que tentavam levar uma vida normal.

Com a proibição ao álcool e o combate aos "valores ocidentais decadentes" correndo solta no país, os iranianos tinham que se virar para conseguir algum tipo de diversão. Várias festas clandestinas na casa dos Satrapi foram interrompidas pelas patrulhas dos guardiões da revolução, que fiscalizavam qualquer atividade subversiva. Não raro tudo era resolvido com a boa e velha propina aos patrulheiros e com alguns litros de vinho despejados no vaso sanitário.

A paranóia era tanta que a simples encomenda de algumas fitas cassete e de um pôster do Iron Maiden feita por Marjane aos seus pais, que haviam ido visitar a Turquia, se transformava em uma perigosíssima operação clandestina.
Quando a situação começou a apertar, Marjane, aos 14 anos, foi enviada para um período de exílio na Áustria. A ebulição de hormônios da puberdade chegou ao mesmo tempo em que ela estava em um país do qual ela não conhecia a cultura e muito menos a língua.

Apesar de ter tido uma educação liberal, os costumes europeus estavam a anos-luz do comportamento do pessoal mais descolado com quem convivia no Irã. Em Viena, Marjane adotou um visual punk e se deparou com as primeiras decepções amorosas e a descoberta do sexo. Lá ela também teve que encarar o preconceito racial e enfiou o pé na jaca em suas experiências com as drogas.

A exemplo de Art Spielgman (Maus) e Keiji Nakazawa (Gen, Pés Descalços), Marjane Satrapi, hoje radicada na França, faz um belo retrato de sua própria experiência tendo como pano de fundo eventos históricos. Os traços simples e estilizados de Satrapi são o complemento perfeito para sua narrativa direta e enxuta.

Persépolis teve os direitos de publicação vendidos para mais de 20 países e este ano ganhou uma adaptação cinematográfica em um longa-metragem de animação que estreou no Festival de Cannes. Na dublagem em inglês as vozes dos personagens são feitas por gente legal como Sean Penn, Catherine Deneuve e o mestre Iggy Pop.

terça-feira, 11 de março de 2008

Pra não dizer que não falei mais nada

Quem me conhece já sabe, eu amo o Big Brother Brasil. As terças-feiras são sagradas, os domingos idem. Eu simplesmente amo o BBB, eu acho muito legal ver o povo se debatendo, rebolando, brigando, ficando estátua por duas horas. Eu sou meio sádica, confesso. Mas também, entrou ali pra me divertir, né? É isso que eu acho. Adoro o sofrimento alheio, o sofrimento de quem assinou um contrato pra sofrer, eu digo. Porque sofre mesmo; eu sofreria. Aliás, eu não iria me enfiar num antro desses, não por livre e espontânea vontade, claro. Eu acho meio triste fazer um vídeo, chamar os pais pra colocar uma camiseta com a sua cara e ficar torcendo por você. Mas eu me divirto assistindo os que fizeram isso. Nada contra os brothers, mas vai contra os meus princípios e o meu estilo de vida. Eu gosto muito da solidão, de falar merda, de falar mal dos outros, eu preciso de internet, de televisão, de comida boa, de amigos que eu escolhi pra serem meus amigos, de liberdade, nem que seja pra ficar dentro de casa. Portanto, mesmo que eu entrasse numa casa dessas, eu certamente seria a primeira a sair. “Eu voto na Cristine porque eu acho que ela não se adaptou aqui com o pessoal, não tenho nada contra ela, mas é uma questão de afinidade mesmo”. E como é que eu ia ficar com todo o meu mau humor pós-bebedeiras tendo que fazer prova do líder? Dois segundos de estátua e eu já ia desistir. E o Pam, como eu ia ficar sem o Pam? Sem condições. Definitivamente, eu sou uma voyer. Não sou uma sister. Mas, pra mim, podia vir um BBB atrás do outro. O resto da programação eu dispenso. Ah, não, tem A Grande Família. E a novela das 8, que, como eu li no orkut da Tati: "é melhor que Rivotril".